quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Grude

primeiro filho dá trabalho, cansa, esgota e, um ano depois, somos um caco de gente. um caco com  vida nova, a vida que damos a eles primeiro, para, depois, refazermos a nossa.
aquela vida vai crescendo, independente, começa a andar, nadar, falar, falar e a nossa vida volta a nós mesmas que, com brilho nos olhos, pondera, decide e quer mais. mais vida!
vem o segundo filho. e o brilho que estava nos olhos passa para a barriga. os olhos ficam opacos e a cabeça pensa, pensa, pensa, vê, revê e trevê todas as dores, os cansaços, as dificuldades, as mudanças. o olhar fica em cacos e as peças da cabeça quebrada não se encaixam. doi. foi assim quando a pequena estava na barriga.
até que ela chegou.
e não é que foi mais fácil? e não é que estávamosmos fortes? e conseguimos sentir melhor a pele que sobrava e fazia até dobrinhas quando passávaamos a mão, os pelinhos miudinhos que a deixavam mais macia e que foram caindo, quase que pudemos ver um por um. os brilhos nos olhos pequeninos dela olhavam pra gente e iluminavam os nossos. a cabeça se refez em nova, melhorada, tudo se reordenou e seguimos com um sorriso maior e mais confiante no rosto.
depois veio o terceiro e trocar fralda? até com o neném de bruços, até de olhos fechados durante a madrugada, quase sem nem acordar. mas cada um é cada qual e traz junto as facilidades e as ausências, traz outras dificuldades, mas foram os sorrisos mais fáceis entre os bebês da casa. e até hoje, três anos depois, tudo vem de-va-ga-ri-nho sendo recriado.
são cacos, brilhos e quebra-cabeças que vamos criando em crianças. são vidas dadas e feitas por nós, que nos retornam a chance de recriarmos as nossas.
mas o principal não é isso. há uma essência que cresce na gente, bem lá dentro, e gruda, sem ter como tirar nunca mais.
quando nasce mais um filho, o que ganhamos é um novo amor.

Para Ju, com carinho.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Diálogos surreais

mimima pode ser formiga. mas também pode ser bonita.
mamoma é amora e mamama é banana. ditos rapidamente, no meio da frase, podemos trocar um pelo outro.
pepepa é manteiga e também cachoeira.

quando o mini-menino diz mimima pepepa, pode estar dizendo bonita cachoeira ou formiga na manteiga.
ou formiga na cachoeira e bonita manteiga.

desse jeito, quando ele usa seu vocabulário de mini-menino-que-não-fala e nós em seguida repetimos a frase com o nosso vocabulário padrão, podemos trocar tudo - nem sempre o contexto ajuda. assim, aos três e meio, ele deve vivenciar diálogos surreais como poucos nesse mundo.


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Do dia em que eu briguei com uma galinha

era uma senhora amarga, dessas que ralou na roça desde os dois anos de idade. 
brava. 
cintura fina, quadril largo, coluna envergada para frente, passos curtos e roupas sempre pretas e marrons, sempre saia e camisa.

mas não era pessoa, era galinha. uma galinha amarga, de pescoço pelado.
brava.
não se sabe se seu ninho foi bem escondido ou se foi preservado, mas ela conseguiu pintinhos. muitos. oito ou nove.
pintinhos supervalorizados, como todos, talvez porque as galinhas saibam a vitória de manter seus ovos.

e foi o mini-menino, brincar lá fora. 
bem
onde
estava a família.
eu vi da janela, galinha brava!

corri, ela arrepiou as penas pra cima dele, eu corri, bati o pé pra ela, assustou, fugiu, pintinhos espalhados, mini-menino pulando, ela se arrepiou pra mim: vem pra cima dos pintinhos pra você ver! e lá foi na direção dele, que ria. corri, peguei no colo. ele ria. os pintinhos foram passando, a galinha se arrepiando pra mim, eu batendo o pé pra ela - o meu estava protegido, mas enquanto todos os dela ainda não estavam, lá vinha ela de penas para o alto. brava. amarga.




segunda-feira, 29 de junho de 2015

Alice, é você?

pois acabo de descobrir mais uma alegria na minha vida. 
pintando uma parede, a pequena me diz: tô achando muito bonito, porque tá me lembrando Alice.

gosto que minhas coisas sejam alice.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Tem hora que a gente cria sonhos irrealizáveis... e logo depois pensa: está tudo certo.

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um sonho irrealizável não parece coisa boa, mas, ué, por que temos que fazer real todos os sonhos?
o sonho era entrar na caverna de Chauvet, ver suas pinturas, seus brilhos, sentir seu cheiro, respirar aquele mesmo ar que foi respirado há milhares de anos e me conectar com o pintor de dedinho torto, aquele, que dizem ser (senão o) um dos primeiros artistas do mundo, que nos mostrou que a diferença da nossa espécie pra os neandertais, que chegaram um pouco antes de nós sapiens, é esta: a capacidade de ver, de observar, de tornar aquilo simbólico e, então, representar. 
ô quem dera entrar lá e sentir os animais que correm com oito patas. 
mas não vou, eu sei.

chauvet-1

enquanto isso, no meu mundo real, eu ganho de dia das mães presentes lindos, tão lindos como uma panqueca de laranja com doce de leite e um passeio pelas pinturas rupestres daqui. de quanto tempo atrás? não sei. mas que me levou a imaginar a dura vida de quem fez aquele desenho, ah, me fez! e vos digo: foi uma criança. que viu a siriema correndo pelo Lajeado, tornou aquilo simbólico e representou, com seus dedos sujos da tinta feita de sangue.

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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Palavras

hoje estava frio, não tão frio, que até o pequenininho falou: uiu. sim, ele, que não fala, falou. frio. e chorou, e pediu colo e me deixou o enrolar  na toalha e quis vestir a blusa. 
uiu. 
frio.
e, sim, eu me emociono a cada palavrinha mal falada não só pelo atraso enorme e pelo desafio de agir para que isso aconteça, ainda que sem saber como, mas porque quando se pisa no solo sagrado da responsabilidade pelo outro, real, sentida, profunda, não há como não se emocionar com um passinho pequeno que seja. é preciso descalçar e pisar nesta terra para entender e para compreender o outro de um jeito que se fica até sem saber como agir. porque a compreensão também pode dificultar o crescer. 
mas se para pra escutar. se para tudo para prestar atenção. e então se ouve: uiu. e se acolhe e se esquenta. e se veste e se coloca na cama e ele dorme com o braço na boca e, depois, fala dormindo: é meu. porque se fala, meu filho, nesse mundo, são as palavras que emocionam.


quarta-feira, 13 de maio de 2015

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Biso Adolfo, vó Danira

dessas coisas com explicação difícil de alcançar, hoje foi o dia em que, finalmente, consegui terminar a "restauração" dessa luminária. 

quanto orgulho cabe numa peça? 

de manhã, terminei a instalação elétrica, de tarde, comprei os parafusos que faltavam e, de noite, coloquei no seu devido lugar: ao lado dos lança-perfumes que minha vó tanto gostava e que meu bisavô insistia em pegar os potes usados, cortar e soldar para dar novos usos. hoje estes potes estão no banheiro da minha casa, um com um maço de sempre-vivas e outro com uma flor de plástico vermelha junto de um macinho de sementes de grama unidos por um lacinho de palha, que minha pequena me deu a um tempo atrás. logo acima, coloquei a luminária. 

gosto de banho com luz indireta. tomei banho feliz, hoje. 

pouco depois de pronta a co-produção minha com meu bisavô, recebo a triste (mas boa) notícia da partida da minha vó. foi hoje o dia de unir de gerações. 

por quanto tempo eu vou chorar a cada vez que vir isto?



Conflito noturno

deitada com o mini menino, o grandinho arrumando sua cama e a pequena já quase dormindo, cada um em seu quarto. 
aí eu digo:
_ boa noite, meus amores, durmam bem.

foi a pequena que me respondeu:
_ boa noite, mamãe, sonha com deus, com os anjos e com unicórnios.
_ você também, minha amora, e com as fadas, pra elas realizarem todos os seus desejos oníricos - eu disse mantendo o brilho do encanto.

foi aí que veio a voz do terceiro quarto:
_ e com os deuses da morte.


cataploft (ouviu-se o som de todos os brilhos caindo no chão)

_ rapaz, assim você acaba com o encanto - falei.
e ele me respondeu: é que toda história tem seu conflito. 


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Quando eu vou ver, estão todos em volta de mim

eu saio, vou lá fora, vou pra um quarto, pro outro quarto
o olho embaça, eu divago, eu me saio
e eles vêm e eles vêm e eles vêm.
olhamos nada, ficamos juntos, sou escalada e o infinito
é um tempo
que existe.


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Historinhas pescadas nas falas de crianças 10

eu acho engraçado. quando vejo alguém querendo ser presidente, eu entendo o que eles falam (!) e sei direitinho o que eles querem fazer (!!), mas depois que um deles vira presidente, eu não vejo fazerem nada! (!!!)


da pequena, 7 anos.


sábado, 13 de dezembro de 2014

E então, outro Natal

ora, se ele, o papai noel, que não é pai nem aquele que escrevem Pai, ora se ele não é uma utopia. 
quem dera uma vez por ano, ao menos uma!, alguém desse os presentes mais queridos por todos. ora quem dera - quem dera! - alguém com generosidade tamanha, uma vez por ano. uma vez, só uma, quem dera se rico ou pobre recebessem, de coração, de bom grado, com carinho, aquilo que acreditam ser a melhor coisa para se ganhar naquele momento. quem dera houvesse renas voadoras e carruagens mágicas, um coração tão bom, uma atenção tamanha aos desejos de cada um que só pudesse aparecer uma vez por ano, só uma. mais que isso, talvez: insustentável. um dia, dos trezentos e sessenta e cinco - ou seis -, que todos fossem felizes, que comessem com fartura, que sorrissem e se iluminassem, um único dia, todos nós que aqui estamos, assim, quem dera. todos. mas é utopia. e, como tal, é triste. e linda. e, por isso, mais triste ainda.

e por linda, deixamos os pequenos acreditarem. mentimos sem que se quebre a confiança. (deixemos, só por mais um ano, estendamos mais um pouquinho a crença). fazemos um esforço máximo e coletivo pra que eles, alguns pequenos (mas só alguns), entendam que é possível, verdadeira e realizável essa beleza. pela utopia que queríamos tanto que fosse real, por ela, fazemos, com muita força e coletivamente, que ela seja, sim, real. ao menos nas mentes e nos corações dos pequenos. uma vez por ano.

sábado, 6 de dezembro de 2014

Oração

que se aprenda a aceitação necessária à vida. e que a resignação permita manter a chama da persistência e da luta.
que a beleza e a delicadeza sejam a força em si. que tonifiquem a indignação necessária para seguir a caminhada com mais determinação.
que a inteligência tenha sua base na sensibilidade e na empatia. e que alicerce o prosaico da vida.

que as ausências sejam só uma coisa a mais, que sejam outras as pautas do julgamento sobre nós.



quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Mis hermanos, vocês erraram, mis hermanos

"Dai-me luz / Ó deus do tempo / Dai-me luz..."  

povo doido! pedindo luz pro deus do tempo? não tem lógica! pro deus do tempo tem que pedir tempo, ué. - diz o grandinho.

e eu nunca mais escutei a música do mesmo jeito...


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O tamanho do pouco

_ espera só um pouquinho! - ela me disse.

esperei.

esperei e cansei.

_ vai, pequena, abre a porta.
_ espera um pouquinho.
_ eu já esperei, meu bem!
_ então o meu pouquinho é um pouquiiiinho maior do que o seu. 


quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Guerra de deuses

eram 3, 3 meninos. meninos-moleques. 

um deles, estrategista. filho de atena. assistiu uma vez um filme de um louva-deus que estava comendo formigas e, rápido rápido, foi atacado pelas maiores do formigueiro. foi completamente esquartejado, morto e largado aos pedaços.

outro, guerreiro, desses da luta direta, corpo a corpo. filho de ares. meninão, menino grande.

encontraram um louva-deus aqui em casa. enorme, gigante. pronto. lá foram eles e capturaram o louva-deus em um pote de plástico. dizem que louva-deus é o vilão dos insetos, o mais mau de todos. o que vão fazer com ele - perguntei. não sei, depois a gente decide. e foram para a outra casa carregando o louva-deus. 

no caminho, estrategicamente, tinha uma trilha de formigas. coitado do louva-deus. rápido rápido foi atacado. bem... digamos que ele foi brutalmente lançado para o combate. lutou com muitas forças. era grande, o louva-deus. mas eram muitas as formigas... só que eram pequenas, entravam debaixo das asas, subiam nos olhos... ah, se fossem grandes!

por sorte, o outro menino era um pacifista, de trato com os animais. filho de pan. com sua calma convenceu os dois que não e tirou o louva-deus de lá com um pauzinho. saiu ferido, o bicho, mas agradecendo a todos os deuses que a empatia existe.



sábado, 23 de agosto de 2014

Quando, meu filho? Quando???

é, meu amorzinhozão,
há indicações pediátricas para que eu não deite com você na hora de dormir. 

mas, me diz, meu querido, onde eu vou lhe ver piscando devagar até se entregar de vez aos sonhos? quando vou repousar minha mão em seu braço e perceber que, do seu ombro ao seu cotovelo, minha mão indé maior? como vou lhe ver rindo de tanto sono, quando você se segura ao máximo pra não dormir? 


as gargalhadas de sono, elas são gostosas, eu sei - já bem ri assim aguardando a chegada do sol em mongaguá... 

quando você vai sorrir pra mim, um sorriso bonito e sincero, de boca fechada e de olhos apertados, ao ajeitar o cobertor sob o queixo? e, em dias de agito maior, em que eu peço silêncio e quietude, como vou sentir suas duas mãos tapando a minha boca? e em que momento você vai me deixar deitar com a cabeça em seus ombros e acomodar seu pequeno braço envolto em meu pescoço? 
às favas as indicações! pois se não agora, quando vamos nos curtir antes de dormir? 


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Metades e partes

não por serem sangue do nosso sangue, não, não; nem pelo carinho que lhes doamos - são outras as razões que fazem deles, os filho, parte de nós. são pontos práticos, palpáveis, mensuráveis, visíveis, vivenciáveis.

parte é a energia e, para tê-la, é comer e dormir. 
parte é a disposição e a disponibilidade e, isso, está no tempo.
parte é o pensamento, que vive nas decisões.
e outra parte é a emoção, que brota das glândulas, altera os batimentos cardíacos e a temperatura, descontrola a respiração.

o que se come, o que se dorme, o que se decide, as horas e o corpo são as partes nossas que dispomos a eles. 
caso nos darmos demais seja loucura, (como bem disse Oswaldo Montenegro) que nossa loucura seja perdoada, porque metade de nós é amor. e a outra metade, também.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Eu olho para o mini menino

um suspiro percorre meus cantos mais escondidos e me invade em pensamento: 
não teremos mais nenéns em casa... 
quando me sai, lentamente, percebo: 
meu amor 
pelo mini menino 
é amarelo frevo.




sábado, 2 de agosto de 2014

2 e 12

por volta dos dois anos que cada um é. isso porque, antes, não se é pessoa, mas mundo, todos à volta e tudo em si, um único, uno, redondo, um. 
umbigo.
aos dois é que se torna ser.

aos doze, mais ou menos, com uma década de experiência em ser, torna-se si mesmo. 
experimenta-se a si no mundo, no mundo não-família. sai-se do círculo próprio e arredonda-se, no mundo, em relação e em experiência. 
faz-se a si mesmo.
por volta dos doze, adolescer.

educar como formar, é dar determinada forma, percebe-se o outro como vazio e o preenche. mas, como vazio, se antes dos dois, um único em si com todos e tudo à sua volta? como vazio, se antes dos doze, um ser?

educar, então, só em contato direto com o ser que se está aprendendo a ser e, depois, em contato direto com o ser si mesmo que está se descobrindo. estar junto, viver ao lado, conviver,  sendo si mesmo e deixando que o outro venha a ser e torne-se si mesmo.

ser e adolescer.
ambos são processos e, como tal, difíceis e passageiros. processos para tornar-se adultus, do latim, único (pois singular), crescido. processos intensos, profundos e essenciais, literalmente. preenchem cada um de si mesmos.

são processos difíceis para quem os vive. quem está ao lado há de suportar, ser suporte, e permitir que o outro passe pelo que é preciso passar.

mas, desconsiderando isso tudo e, então, sendo indiferente às dores e à beleza do vir a ser,  dos dois, diz-se terrible two; dos doze, aborrecente. 

aqui, não há terrible two, tampouco aborrecente. há um sendo e outro adolescendo.


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Características positivas

quer dizer, então, que ser ativo, perseverante e lutar pelo que quer são coisas boas


a não ser que você tenha dois anos de idade...


sábado, 5 de julho de 2014

2 anos depois

deitada de lado, com as pernas dobradas, o mini menino se aconchega em mim. 

virado de frente, pernas e braços encolhidos à sua barriga, pezinhos cruzados, costas curvadas e queixo ao peito, ele não cabe mais dentro de mim, claro, mas, assim - em posição fetal - revivemos a barriga.


quinta-feira, 26 de junho de 2014

In fans

é porque é tão tão ruim ser julgada. 
é porque é péssimo ser comparada.
é porque doi quando riem.
e por uma vontade enorme de que as pessoas fossem menos horríveis umas com as outras.
e uma dificuldade geral, coletiva e inesgotável de sermos diferentes, coletivamente.
olhar o outro e vê-lo.
ouvir o outro e escutá-lo.
perceber o outro e senti-lo.
é porque alteridade é uma palavra não praticada.
porque os discursos são fáceis nas palavras, mas beiram o impossível na prática.
e, no fundo, os discursos são práticas.
e as palavras são muitas, são demais.
é porque nós mesmos não conseguimos isso, assim, sempre.
e devíamos.
é por isso que eu não faço o que dizem pra ser feito. 
por isso que me dizem do contra.
por isso que eu, por vezes, por muitas, me escondo e calo.
e porque quando isso tudo envolve vocês, doi mais.


terça-feira, 10 de junho de 2014

Dia de primeiros

primeiro bolo que o mini menino fez comigo

 (gosto de ter bolo pronto pra quando os maiores chegam da escola)


primeiro pisão em uma terrível lagarta espinhuda

(curado com argila misturada a bicarbonato de sódio e pantera cor de rosa)


sábado, 7 de junho de 2014

Hora de dormir...

essa é a cama da pequena.


uma brincadeira no alto do beliche, exigência dos pernilongos highlanders que moram aqui conosco e aparecem mesmo nos dias de frio mais frio, mesmo com casca de laranja queimando devagariiinho e deixando a casa com cheiro de bolo. 

hoje fui trocar roupa de cama com um aviso: lê debaixo pra cima, tá? não esquece, é debaixo pra cima. primeiro a linha debaixo e depois a linha de cima.


ai, meu coração, ai meu coração! se um dia eu morrer do coração vai ser de tanto amar...


quinta-feira, 5 de junho de 2014

Amora, ah, as amoras!!!

e se antes ele aceitava que não tinha mais amora madura, agora como até as verdes. basta estarem um pouquinho rosa. 

assim... só um pouquinho.


um dia sem que o mini menino se lembrasse das amoras, uma pequena chuvinha e pronto! lá estávamos todos nós no pé da árvore. pensando em nutrientes, perguntei em que amoras são ricas.

em amor, disse o pai.

então deixa o mini menino comer amoras! do chão, do pé, das mãos... amor é mesmo o que mais nutre.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

De manhã

lavando vasilha. mãe, posso ler pra você as receitas de fadas?, diz ela. pode. eu vou começar aqueles exercícios de números primos, diz o outro. arrrrhhhh, corre o mini menino com um pote de pepino em conserva nas mãos. pego ele debaixo do fogão. geladeira aberta, fecho. 250 g de morangos, açúcar de confeiteiro, mas eu tenho que dividir por todos os números até 79? mimi, uma mãozinha me puxa. pega um copo grande de sss sssuu sundái. é sunday, meu bem. tem que ter um copo grande, ela diz. ai, acho melhor fazer na casa da vovó. mas, filho, você já estudou os fatores e múltiplos? não. então vamos lá, senão não vai rolar. largo as vasilhas. vou pro sofá. mãe, e wafer? é casquinha? se fala vafer ou uáfer? ah, ah, ah!, diz o pequenininho. ele tá subindo a escada, cantarola a vozinha de menina. desce, meu bem. nnnnnão. chega o pai, mancando. conheci o cubano. abrir a geladeira não pode, eu digo. não, aí não. ele cruza os braços e sai bravo. ele receitou antibiótico, mas eu não vou tomar. só a pomada tá bom. 75 é número primo? á, á, á, aponta o dedinho de mini menino pro filtro. duas bolas de sorvete. água, meu bem? água. joga no chão. avelã picada. o que é avelã? mas o Zé Valério falou que vai pegar uma raiz que vai sair tudo. não é a primeira vez que você tem isso, né, eu digo. não??? tem certeza? o português foi parar no hospital por causa de bicho. aff! mãe, me ajuda aqui? olha que legal, pra eu saber se 120 é múltiplo de 2, é só eu pensar que se 6 vezes 2 é 12, 60 vezes 2 vai ser 120! legal, né? é. já tô monosilábica. gente, ele foi pra rua. vou lá. rua nada, tá em cima do monte de bambu. aaaaarrhhh! aaarhhhh! não consegue descer, né, vem cá, eu te pego. nnnnnão. tão tá, vou subir. nnnnnão! vasilhas, ai. mimiiiiii! despertador. já arrumou a cama? menina, esse seu sapato tá no chão até agora? não é sapato, é cro-c. vão se ajeitar pra ir pra escola. conversas. números, banana split. toca despertador de novo. conversas. computador, água. toca de novo. genteeee, vamos! hora de ir almoçar. nego, vai lá que hoje eu não vou almoçar. foram. ufa. enfim, silêncio. 


agora posso pensar nas minhas coisas.



sábado, 17 de maio de 2014

As sensações e a força brutal

dia das mães e fomos nós, só nós duas, na casa da Cuca. como que há tempos eu queria passear com ela, só com ela, fomos neste dia, quando sinto que especial é ter filhos. a Cuca, aquela mesma, prima do Saci, mora aqui pertinho. logo ali embaixo, sob uma lapa de pedra grande. tem uma árvore caída na porta da casa dela - camuflagem - e ela fez um fogão de barro lá dentro. há tempos eu queria levar a pequena lá. provocar sensações. relembrar estes seres fantásticos que povoam nossa casa, nossa cidade e nossa vida. há tempos que eles estavam dormindo em nossas memórias.

fomos. descemos, pulamos a cerca, andamos pelo pasto, descemos, vimos a mais linda copaíba, vimos a pedra e eu vi a árvore caída. a porta. demos as mãos. pulamos os galhos das árvores e entramos. lá estava: o fogão, já velho, um pouco destruído, um cupinzeiro queimado no meio da casa, uma pá encostada em um canto de pedra que lá está como uma prateleira. silêncio nosso; som, só da natureza. eu o quebro com um sussurro: ela deve ter estado por aqui, ou o primo dela, o Saci - tem marcas de fogo e tem essa ferramenta. ela: tô com medo. vamos embora? saímos pela outra porta. rapidinho. fomos.

o medo, quando controlado, provocado assim, de propósito, liberta toda a imaginação presa em nossas rotinas. o cupinzeiro, para a pequena, foi um caldeirão em um novo fogão. ela viu um caldeirão.

andamos sobre pedras, pulamos outra cerca, fomos pelo pasto e chegamos em uma água que corre lá por perto, vinda de uma nascente próxima do brejo, ali perto. gosto muito daquele cantinho. ela não se lembrava de lá. andamos um pouco mais e chegamos onde as pedras se abrem em uma fenda feita por anos e anos e milhares anos da água escorrendo por ali, a fendinha. é antigo, esse lugar. as pedras denunciam a idade como se rugas da natureza. sentamos. se é que a Cuca toma banho, é ali que ela toma, só pode, é tipo uma banheira!, riu a pequena. silêncio nosso, barulho, só da água. e eis que eu fico sabendo que quando a pequena coloca uma concha na orelha, pra reviver o mar, ela escuta até as gaivotas. que bonito, isso! 

penso que é nas sensações que vivem as imaginações.

olho pra essa pequena e vejo tanta tanta tanta delicadeza em seu rosto que me pergunto: como vou ensiná-la a força necessária? há força na delicadeza? penso, com uma esperança medrosa que me enche toda, que vou aprender isso com o tempo. vou colocar muito reparo nisso, na força que a delicadeza - por si só, só por ser o que é - consegue exercer no mundo. me parece brutal.

terça-feira, 18 de março de 2014

De areias, chás e beijos

santa melissa; bento capim santo!

como que o beijinho com areinha de sandman passou despercebido e a areinha caiu toda pelo chão de triste que ficou, a pequena deitou e não teve um tanto bom de sono pra conseguir dormir.

eu tinha acabado o ritual-diário-de-massagem no mini menino, escovava os dentes pronta para me deitar e ela chega com a notícia... ai ai, que faço eu? mando de volta pra cama? não - tão ruim esses mandos. sentamos no sofá e conto uma história? hummmm... nível de inspiração zero. ah, sim! um chazinho: sempre benvindo!

buscamos as ervas, água fervente e, na espera, entendemos que o beijo se estatelou no chão e levou junto a areia de sandman que, triste, não flutuou brilhando para ajudar a cair de sono os olhos.

chazinho santo pronto, sentamos, eu em uma cadeira e ela em quatro empilhadas. 
suave, o chá.

enfim, a pequena subiu na cama, dei um beijinho muito bem percebido e, então, lá se foram todas as areinhas brilhando de felizes, levando sono aos pequenos olhos azuis de menina que, em menos de dois minutos, fecharam-se e trouxeram todos os melhores sonhos!...



quinta-feira, 13 de março de 2014

Conversas escatológicas à mesa

enquanto comia uma comidinha gostosa, assim disse a pequena: eu sempre quis guardar uma comida para sempre, mas não consigo! eu sempre acabo fazendo cocô...


domingo, 23 de fevereiro de 2014

Está crescendo, o garoto!

era neném o mini menino, agora, não mais. não pelos dois anos de idade (hehe) não. idade é acaso de rituais que fazemos necessários nas nossas pequenas vidas. que fazemos de intrigas, de comparações, de fronteiras pré definidas. e fazemos de amores, de festas, de conhecimentos e saberes. outros são, verdadeiramente, os marcos.

e o grandinho, faz pouco se deixou. se entendeu como não mais criança, se busca em caminhos, em desejos por onde cavar suas trilhas e fazer da vida a sua própria, de mais ninguém. 

no dia em que acabou a energia, descansamos sem banho. dia seguinte, manhã agitada e, na preparação para a aula, sentimos que a água seria bem vinda ao corpo. não sei se é da roupa suja ou das atividades, mas, hummm, eca, que cheirinho - falei. 

com um sorriso largo e espontâneo no rosto, ele: vou ter que começar a usar desodorante?? como quem diz obaaa!


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Boniteza

há boniteza num mini menino pra cima e pra baixo garrado a seus brinquedos, tantos quantos couberem em suas mãos, até na hora de dormir.

há boniteza num mini menino pra cima e pra baixo garrado a seus brinquedos, tantos quantos couberem em suas mãos.

há boniteza num mini menino pra cima e pra baixo garrado a seus brinquedos.

há boniteza num mini menino pra cima e pra baixo.

há boniteza num mini menino.

há boniteza,

há.


ô, se há!


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

É tudo verdade

mini menino com febre
mala de férias semi desfeita
no caos da casa
vela sumida
balões sumidos
no dia da preguiça
saiu o bolo

ufa!
pelo menos isso 
ele comeu

o pai trouxe brigadeiro
pequena de boca melada
grandinho no computador
e mini menino de olhos inchados
conjuntivite
em todos
menos no pai

cansei da febre dele
no dia da preguiça
todos na cama
até que
mãe, me ajuda aqui!
desespero
caiu um mosquito 
no ouvido
do grandinho
aaaaah, to escutando ele!
lá dentro!
só com pinça
saiu o bicho

ufa!
dia de feliz aniversário 
atabalhoado

noite suada
e o pequenininho
amanheceu sem febre
e
pra provar que tava tudo bem
de fato
derrubou a tv
em cima 
de si mesmo
bem ele

2 anos completos
começa o terceiro
(a vida começa aos 3)
a menor idade de criança
diz a pequena
só falta falar
e parar de mamar

casa com 3
é casa bagunçada
mas sem mais neném 
nessa casa...

deixa o menino crescer, mãe
deixa
é bom também!


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Sinal dos tempos

a varanda não é alta. em frente a ela era terra pura, era descuido. isso porque a ideia era ter um jardim como o da Dona Rosinha, mas as mãos só encontram os mistérios da terra e não conseguiram. falta de persistência, em partes; ausência total de criação do trato necessário, em essência. então a terra tem sido transformada em espaço pra brincadeiras, com pneus enterrados e, em ideia, com um parquinho. balanço, talvez. 
foi gramada.

tem uma amoreira (não a maior) que faz uma sombra gostosa no barranquinho onde é bom sentar. já montamos uma piscininha na grama, também, e só o vento tem o dom de tirar os pequenos da água. 
essa casa é caminho de um vento.

da grama para a varanda e da varanda para a grama são uns cinquenta centímetros, na maior parte. quarenta, em uma parte menor. é pela varanda que chegamos e é a ela que vamos quando saímos pelas portas. de lá vemos o sol e a lua nascer e temos a paisagem. em três passos chegamos da porta a beira, não é um varandão.

quando aprendeu a andar, o mini menino saía pela porta, caminhava a passos rápidos bem até a beiradinha. parava ligeiro. e a gente, por medo de queda, pulava pra lá e pra cá em frente a ele. ele nunca caiu. e a gente nunca mais relaxou na varanda.

foi então que uma tela de galinheiro apareceu lá. só com um metro de altura, fechou a frente toda da varanda e o pedaço de um dos lados.

agora o tempo mandou seu sinal, encompridou as pernas do pequenininho e a tela foi embora. enfim, livres! bom é que acabou a volta pra pegar amora, é que deitados na rede, vemos o horizonte limpo. bom é que em um pulo a pequena já vai brincar nos pneus e que o grandinho não tem mais que mijar pelo buraquinho.



domingo, 26 de janeiro de 2014

Pensamento não aleatóreo

mas no fundo eu sei que isso não passa daquelas loucuras de cabeça de mãe.


Pensamento aleatóreo

não sei como o grandinho não parou de questionar tudo na vida com toda a minha brutucuzice. das duas, uma:
ou foi sorte, muita sorte;
ou foi uma persistência feroz escorpiana. 


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Normal? Não, obrigada.

nossa, mas é agitado, hein! esse menino é maluco! caramba, ele é ligado em 220!

sim, sim.

e então, seguindo o caminho lógico de pensamento adulto, eis que chega:
ele é normal?



tóóim
em um milésimo de segundo meus olhos deram meia volta completa e eu fui levada a outro mundo.

normal é o que está dento da norma. 
a norma é de padrão de comportamento. 
o padrão é aquele em que seja mais fácil de nós, 
adultos, 
lidarmos. 
então, não, ele não é normal. 

mas se eu falar isso, lá vem patologização. 
então, não, 
eu não vou dizer que ele não é normal. 
tóóim 


depois de um segundos no mundo dos olhos voltados pra dentro, completando um segundo e dois milésimos de um infinito silêncio, me chega um sorriso tranquilo e eu digo com convicção:

_ ah... ele é tão feliz!


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

2014







2013

me perdoem, meus filhos, que eu tenha exigido tanto, tanto, tanto de mim que não tenha conseguido me dar a vocês. que eu tenha refletido sobre nossas conexões a ponto de não recobrar a postura e olhar nos olhos. que eu tenha perdido tempo em inutilidades e não tenha me disposto ao essencial. foi um ano duro. e eu cansei.

mas agora acabou: o nosso planetinha deu mais uma volta em torno do Sol e cá está ele, girando, girando, girando, girando - infinitamente, será? 
então façamos como este nosso querido chão está fazendo mais uma vez e, com o perdão que o nosso amor é capaz, vamos seguir nesta próxima jornada de voltas e tresvoltas da Terra. 

com nossas revoltas e revoluções internas, claro, mas em frente, cada qual em torno de si mesmos e em torno de algo maior. juntos e ligados uns aos outros, sempre. mas autônomos, também. 

vamos nos libertar das amarras de distrações inúteis e daquilo que nos tira a capacidade de auto cura. voltar à disponibilidade necessária. 
se antes houve exigência extrema de força e de coragem, usemos delas, de ambas. mas só - e somente só - se estas foram realmente criadas com raiz, e não se tiverem aparecido brevemente pelo medo, não se forem frutos da vergonha só fantasiados de bravura. 
vamos em frente preenchidos de nós mesmos. vamos nos dar uns aos outros. vamos nos esvaziar pra, então, enchermo-nos com o outro que nos foi dado e aumentar o nosso rol de sentimentos, a nossa disposição e disponibilidade. 

sigamos, sigamos para cima, para mais, para além! porque vocês estão crescendo. e isso é assustador. mas é lindo. e é. 
sejamos.

com amor,


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Semente não é mãe?

a pequena viu e riu: uma semente grandona e um cabinho pequenininho!!!



pensando assim, é engraçado que sementes sejam tão associadas às crianças.


sábado, 21 de dezembro de 2013

Enfim, o verão

foi quando o grandinho nasceu que aprendi a ter medo. antes o medo era soberano e, por isso, a coragem reinava e me deixava toda destemida. depois, não. depois veio o medo. sem dor, sem peso, só veio. e tem seu lugar.
a vergonha não, esta é intrínseca e nós aprendemos a conviver. foi o tempo que ajudou. (e uma boa dose de bolinha de açúcar, vai.)

o medo gela. o sangue concentra no peito e esfria o resto, fazendo correr ou paralisar. 
a vergonha, ao contrário, leva o fluxo vermelho em outro sentido e o escancara em nosso rosto, essa danada. todo mundo vê.

e é lá que estão nossas emoções: no vermelho do sangue.
com medo, as emoções embaralham bem lá dentro e a reação é confusa. 
já a vergonha deixa um vazio enorme.

tem também a culpa, que consegue não provocar nada no corpo e mostra sua perspicácia na nossa mente, não no coração. 

e assim foi. 
uma sensação no peito de um nó infinito tão compacto que, não preenchendo o espaço necessário, encheu de caraminholas a cabeça e dissipou toda e qualquer disponibilidade, aquela que faz as coisas boas acontecerem e que manda embora o medo, a vergonha e a culpa. 

mas agora é verão.
outras flores, amores e dores virão. 


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O círculo não é redondo

assim dizia um filme que assisti umas, ahn, treze vezes. ou o ciclo não é redondo, não sei exatamente... encaixam, os dois.
espiral é uma imagem que me interessa de ser pensada, ao mesmo tempo em que me aflige. por que voltar ao que já foi e sentir de novo? (já foi???) por que alguns processos são tão difíceis?... 

a Ivone não aprendeu a ler, me dizem os olhos cheinhos d'água. pra quem tem livros em casa é mais fácil, diz a ela a voz de menino maior com uma doce entonação e olhos de sofrimento compreensivo. 
sofrer nem sempre é amargo. 
tem quem aprenda a ler já velhinho. e eu não sei plantar até hoje - eu tento completar.

eu sei como o conhecimento e as escadas sociais funcionam (ou não funcionam). ela sente. e sofre exatamente com a mesma coisa que eu. impressionante! 

a vontade era do não-sofrimento, mas se eu quiser que nada aconteça e realmente nada acontecer, não vai ser legal pra ela. pra eles. mas doi de ver a minha dor ali, repetida. doi de ter que deixar que doa. porque eu não posso evitar que sofram. 
mas... e se pudesse? seria eu egoísta a ponto de deixar que não sofressem? 


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Crianças...

domingo. 
chegamos em casa, casa inteira pintada; por fora, por dentro, quartos, corredor, sala, cozinha, janelas, 
tudo coloridamente lindo!

eis que hoje eu entro no quarto das crianças...





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mandos e desmandos

falando como uma papagainha histórias da escola e da vida enquanto arrumávamos as roupas, pedi que ela fizesse alguma coisa. as palavras exatas da resposta já não ficaram guardadas, mas, por dentro, era algo como 'vou fazer porque quero e não porque você está mandando'. e conversamos rapidamente sobre mandos e desmandos - rapidamente por tudo ter sido resolvido em uma história.


costumamos dizer que histórias são ótimas estratégias 
para crianças assimilarem situações e eu penso:
só crianças?

a pequena me disse que achou muito estranho que, na escola, duas amigas disseram que as mães mandam nelas. ela respondeu que não, mas as duas insistiram. e sabe o que achei mais estranho, mamãe, foi que elas falaram assim, de um jeito tão engraçado, como se sempre fosse assim! como se sempre tivesse que ser assim! eu não acho que você manda em mim... 
ninguém manda em mim.


é quando levamos um susto e, em seguida, pensamos: está tudo certo!
e tá resolvido.


sábado, 12 de outubro de 2013

Ovos

cestinha ao alcance das menores mãos da casa e lá se vão 15 ovos ao chão. ovos ganhados, galados, de um amarelo forte, de viscosidade pegajosa. recolhi os que ainda estavam dentro das cascas rachadas em um pote, guardei os sobreviventes e limpei o restante. ô dó.

hj comemos aqueles que estavam no pote, fora das cascas, já misturados em omelete. fiz uma pro mini menino e perguntei ao grandinho se queria usar todos os outros. mas claro!
e quando colocou na frigideira, disse:

_ lá se vão os pintinhos! 


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ah, Noé...

a pequena detesta bichos de pé. chora a cada vez que temos que tirar um. mas pega pouco, a bem da verdade. 

diz ela que a culpa é de Noé, quem mandou levar um bicho na arca? (será que foi no pé?)

meio da tarde, o mini menino dormindo e eu lá, com o maior cuidado do mundo pra não acordá-lo, agulha na mão e bicho difííííícil...

ah, Noé... ah, Noé!   por que não deixou todos morrerem afogados naquela chuvarada???


sábado, 31 de agosto de 2013

Tempo tempo tempo tempo

a pequena: _você faz isso, um dia?
eu: _ai, não sei, pequena.
_ um dia, eu disse um dia - enfatizou com seu pequeno dedo em riste.
_ um dia a areia branca, seus pés ir... - senti as mãozinhas cobrindo minha boca:
_ para, eu não gosto dessa música - sorrindo. mas como é mesmo a história dessa música?

contei: ditadura militar, tortura, exílio... ame-o ou deixe-o em outras palavras, mais suaves, claro, mas (como não?) duras, verdadeiras. 

com lágrimas nos olhos, a pequena: _e como é que ficou assim, como é hoje, diferente do que era nesse dia?

com luta, meu bem, muita luta de quem queria diferente. contei da minha fundamental participação no Dia do Barulho, vulgo Diretas Já: enquanto mãe, pai e avó eram três cabecinhas em meio a milhões e milhões na praça da Sé, eu estendia meus braços de cinco anos por fora da janela do apartamento, cada qual com uma tampa de panela e as batia com força, determinação e empolgação - sem minha participação, nada teria acontecido, garanto. ainda hoje tenho uma tampa amassada nesse dia (acho que vou enquadrar!).

passados alguns minutos, já com os olhos secos, perguntou-me: 
_ como era a vovó quando você era criança? eu nem consigo imaginar uma velha, nova! Só sei que ela não podia ser igual ela é hoje, não podia! Ela não tinha tanto risquinho aqui, né? - perguntou passando os pequenos dedos ao lado dos olhos - é engraçado, quando fica velha a pele fica levantadinha!

pensei cá comigo... tempo de criança é diferente do nosso.


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Dura dúvida

dia desses, estava lendo e recebi uma bola iluminada jogada sobre minha barriga. levantei o rosto e vi um sorriso maroto que, tendo seu objetivo alcançado, aproveitou para piscar os dois olhos demoradamente e me conquistar de vez.

joguei a bola de volta-recebi de novo-joguei-recebi-joguei-recebi, assim durou a brincadeira.

só porque ganhei aquela piscadela sedutora é que estava a olhar sempre aos olhos - eu teria focado a bola. 
só por isso. 
eu queria outra piscadela... 

dura constatação: aqueles pequenos olhos só olhavam aos meus olhos. pouco importava a bola no chão. o legal eram os olhos risonhos. desde então percebi: mamando, brincando, chorando, sorrindo, pulando, no banho, na vida, toda hora. 
os olhos. estão. nos olhos.

então...    desviar o olhar...    é coisa que aprendemos?!

quando aprendemos a deixar de olhar nos olhos???



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De filhos e amoras

porta aberta. 
de repente uma pequena mãozinha pega o meu dedo e me puxa. vou, pra ver aonde. para fora de casa: para fora da varanda: vamos para o pé de uma árvore.

ahn? me diz a voz de neném grande que aponta para as folhas. amoras! pego uma madura e sua pequena boca começa a ficar manchada de rosa-roxo. e as mãos. _ahn? ahn?, quando a frutinha rapidinho já passou das mãos pra boca e pra barriga. são muitas!

e no emaranhado dos galhos, as amoras amadurecem enquanto estamos lá, vemos cada vez mais e mais! e mais! amoras parecem milagre, disse uma amiga certa vez, enchendo um copo delas para levar pra uma criança de outra casa. e são. justo quando as mães já cansaram e querem entrar em casa de novo - o que demora, pela beleza das mãos e boca sujas, das mãozinhas segurando um galho e respeitando as amorinhas verdes, do movimento da boca mastigando aquele pedacinho de milagre -, as amoras param de amadurecer.

amoreira também é mãe.
filhos também são milagres.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Com perdão pelo enigma...

e em junções improváveis de Pipoca com um heroi semideus que povoa nossa casa por mais de um ano, misturado ainda com receita deliciosa de arroz doce da vó (pra completar feita com arroz arbóreo - de árvore? - afanado da dispensa da própria), aconteceu!



TCHARAM!!!

suspeito que essa a criança grande aqui gostou mais que as pequenas.


terça-feira, 16 de julho de 2013

Eu só quero chocolate!

chocolate, chocolate, chocolate, eu só quero chocolate. não quero chá, não quero café..., cantava o grandinho. como que comprei chocolates hoje, apareci de surpresa com um na mão. gostei dos olhos arregalados dele! 

voltei pra sala.

passados dois segundos escutei a nova versão da música:

costelinha, costelinha, costelinha, eu só quero costelinha, só quero costelinha...